Pluralidade de sons e ideias: um papo com a GLUE TRIP

Publicado em 08/06/2022

Por Filipe Maia e Bruno Deos

Nos últimos anos o cenário musical mundial tem possibilitado que bandas com sonoridades diversas fizessem parte das playlists e de festas, fazendo com que surgissem grupos que pudessem ousar além do próprio som, brincando com ritmos e línguas, sem ter uma barreira que os definissem ou rotulassem. 

Nessa onda mais diversa e aberta, surgiu por volta de 2013 o Glue Trip, banda da Paraíba, mas que hoje em dia conta com integrantes de várias partes do Brasil e que, como a premissa da liberdade pressupõe e permite, mistura várias influências e psicodelias pra fazer um som cada vez mais próprio. 

Pedro Lacerda, João Gôsto, Thiago Leal e Lucas Moura fazem o quarteto da banda que conta com dois álbuns lançados e um que já está pra sair, com o single Tempo Presente já rolando nos streamings da vida. 

A gente bateu um papo com eles porque, porra, tem coisa legal pra caramba acontecendo com os caras. Tem som com o Arthur Verocai, música deles em vídeo de skate, letras em português e inglês, shows acontecendo em todo canto e por aí vai. Nada melhor que uma conversa para conhecer melhor: 

 


Glue Trip / Foto: Pyetra Salles / Tratamento: Bibiana Marques

Como e quando surgiu a banda?
Lucas: A Glue Trip surgiu em 2012, 2013, por aí. Era um projeto que eu gravava em casa no começo, descobrindo os programas de produção musical e comecei a pegar os sons e lançar no Soundcloud. Começou com uma dupla em 2013, as duas fazendo a parte de gravação e nosso foco era ser um laboratório de gravação, não era tanto ter uma banda, era mais experimentar gravar, mesmo.

Com o decorrer do tempo, foi surgindo esses pedidos de show e veio a ideia de montar uma banda e realmente levar pro ao vivo.

Eu tinha esse nome em mente, e quando mostrei para um amigo ele comentou que era uma viagem de cola da porra, então casou legal! Eu fazia o curso de publicidade, e no estacionamento era onde a gente encontrava a galera e mostrava os sons que estava fazendo. Na época eu fazia com um padzinho, gravava dentro do computador direto e quando meu amigo falou da viagem de cola eu achei bem massa, queria um nome que não tivesse duplicata!

Como é ser uma banda brasileira de fora do eixo Rio-SP e como é lidar com isso?
Lucas: Ser fora do eixo é estar distante de oportunidades, de fazer mais shows, ter mais locais… E a cidade de João Pessoa não é uma cidade que suporta tanto ter uma cena. Ela tem uma cena criativa muito forte, várias bandas legais, mas não é algo que vá sustentar a vida de artista, sabe?

A gente se mudou para São Paulo também para estar mais perto do nosso público e isso transformou a Glue Trip em um projeto universal, com outros eixos também, agiliza muito a vida. Além também de ver shows e se nutrir de coisas legais, encontra uma turma boa… Gira muito mais.

Vocês tiveram a participação do Arthur Verocai no som Lazy Dayz. Como aconteceu isso?
Lucas: Foi muito louco, a gente estava no estúdio, no YB Matraca Records e passamos a ensaiar muito. Essa turma que hoje é a Glue Trip se juntou em 2021, na pandemia, mas a ideia era gravar um disco e fazer shows. 

A gente chamou o Zé Nigro para fazer as produções musicais dos sons e algumas coisas foram surgindo, criamos no estúdio pra caramba… A gente tinha uma dinâmica de gravar as demos que ensaiávamos e mandar pro Zé. Ele devolvia para a gente com a música diferente, dando os toques dele.

Pedro: Foi um mestre, ele fez esse trampo de pegar o que estávamos criando nós quatro e transformar com algo de uma pessoa de fora, conseguiu pegar nossos arranjos e nutrir para que ficassem mais potentes.

Lucas: Um belo dia, terminando as gravações no Matraca Records, era aniversário do Pedrinho e estávamos muito loucos, ouvindo as gravações tomando cachaça à vontade. Aí o Zé, escutando Lazy Days, falou para mim “nessa aí só faltou o Verocai!”

João: A gente já brincava disso escutando os discos na sua casa, lembra?

Pedro: O grande lance dessa participação é essa parada das referências que estávamos ouvindo durante o levantamento dos arranjos e o Verocai era uma pessoa muito citada, tanto que quando o Primo entrou na banda, a gente brincou que só podia participar quem tocava as músicas do Verocai. 


Pedro Lacerda / Foto: Pyetra Salles / Tratamento: Bibiana Marques

Lucas: Aí o Zé falou um pouco brincando, meio que na cachaça. Aí entrei em contato com a equipe dele e foi mágico, quando recebi a mensagem de volta dizendo que seria um prazer fazer esse trampo, acho que ele não conhecia a Glue mas foi se informar.

Eu só acreditei quando estava no estúdio com ele na minha frente gravando os arranjos. A gente conversou com ele sobre o som e foi pra estúdio no Rio de Janeiro, cego, confiando nele.

João: A música já estava pronta, mas a gente gravou de outro jeito para mandar pra ele, uma coisa mais limpa para ele pensar em cima. Ele projetou tudo! 

Lucas: Nas partituras que ele mandou, ele mandou o nome e o sentimento que ele queria passar nos arranjos e ele colou HOPE, que é esperança, saca? 

Pedro: Um abraço pro Verocai! 

Lucas: Fazer esse disco foi muito gostoso! Um disco no formato como a cartilha manda! 


Lucas Moura / Foto: Pyetra Salles / Tratamento: Bibiana Marques

Vocês tiveram uma música em um vídeo da Thrasher, na parte do Shintaro Hongo. Alguém da banda anda de skate? Como foi essa parada de usarem um som de vocês, como eles descobriram a banda?
Thiago: Eu ando de skate e foi foda pra caramba, eu saco esses vídeos todos e meus amigos que também andam de skate ficaram de cara! Fiquei feliz pra caramba.

Pedro: o Tiago é o único skatista, a gente tem que fazer um clipe novo agora, com ele andando de skate! 

Lucas: Foi o próprio Shintaro que descobriu, foi solicitação dele. Ele que entrou em contato com a gente depois, falando que foi um pedido dele pessoal para a Thrasher. 

Os clipes de vocês são uma viagem, né? Vocês que pedem esse input ou deixam designers e artistas livres para criarem?
Lucas: Quando eu faço, geralmente deixo com pessoas que eu gosto, que já trabalho há um tempo. Gosto de variar, na real, pessoas novas e que já trabalham. A capa desse disco, por exemplo, tá sendo feito pelo Bruno, que fez as duas primeiras. Então fecho os olhos e entrego na mão dele tranquilo. O briefing que a gente faz é um papo pra falar o que sentimos no disco, falar da gravação e ele geralmente chega com uma pedrada na cabeça. 

Geralmente deixo bem livre. Daniel Vincent, que é um colaborador de longa data da Glue Trip, já fez dois clipes e está fazendo o terceiro agora. É um pessoal que já trampa com a gente e sabemos como funciona. Geralmente temos um papo muito legal que dá frutos legais.

Vocês estão explorando cada vez mais as letras em português. Como tem sido isso pra vocês?
Lucas: Tem sido natural. Toda vez que as pessoas pediam, sentia que não estava na hora e não queria me pressionar para isso e foi assim que aconteceu. Esse disco é o Glue Trip conectado com o Brasil, o Nada Tropical. Sempre cantamos em inglês, mas nesse disco era muito importante estar perto da galera que gosta da gente aqui também.

Também é fazer com que o fã de fora entendesse nossa conexão com o Brasil.

João: Uma coisa que acho bem louca olhando de fora é que mesmo cantando em inglês tinha essa conexão com a brasilidade no som então era muito louco, era uma coisa que certamente ia vir em algum momento. Legal essa mescla que está rolando.

O som de vocês é psicodélico. O quanto as viagens psicodélicas influenciam no som de vocês?
Todos: Constantemente!

Pedro: Acho que todos nós, nessa nova formação, cada um é de um lugar do Brasil, cada um com suas experiências antes do nosso encontro e a gente consegue colocar isso nos nossos arranjos e músicas. 

Lucas: Os ensaios do novo disco foram bem regados à maconha.

João: Fumava muito para poder criar.


João Gôsto / Foto: Pyetra Salles / Tratamento: Bibiana Marques

Quais são as maiores referências musicais pra vocês?
Lucas: Marcos Valle.

Pedro: Quem é Quem do João Donatto.

João: Ana Mazzotti, sempre. 

Thiago: É uma mistura, mas esse último disco foi muito Brasil. Rolava noite do vinil na casa do Lucas e a gente pegava muitas referências. Cada um ali escolhia um e foi bem em conjunto. Cada um com sua, mas quando juntou deu um outro corpo, uma coisa única. 


Thiago Leal / Foto: Pyetra Salles / Tratamento: Bibiana Marques

O que o público pode esperar desse próximo disco?
Lucas: Muita psicodelia brasileira, graves inconsequentes, grooves gerais, violão, flauta.

Pedro:  E amor, muito amor que a gente colocou nesse disco. A pandemia veio para destruir e a gente conseguia se reunir e é muito legal estar fazendo essa turnê. A gente é muito amigo, a gente fez essa parada e as pessoas podem esperar conexão, assim como a gente se conectou. 

Algum salve?
Todos: Marcos Valle, Verocai, Zé Nigro, Fernando, Gal Costa, Phill Veras e pra todo mundo que curte Glue Trip!