Por Thuanny Judes
Em um papo rápido, a cantora falou sobre o retorno para o interior de São Paulo durante a pandemia, a conexão com a família e o desejo de não abandonar Próspera.
Nas plataformas digitais, ela é sucesso. No Spotify são mais de 196 mil ouvintes mensais. No YouTube, seu canal tem mais de 90 mil inscritos e vídeos com mais de 100 mil visualizações. Nos palcos, esses números ganham reforço: shows com ingressos esgotados.
Aos 32 anos, Tássia Reis já é uma das vozes mais importantes do rap feminino e da música brasileira. A cantora, que coloca seus sentimentos e vivências em suas músicas e fortalece um rol de artistas negros que se destacam e são extremamente necessários na cena.
Papo leve, vibe boa, look improvisado e tornozelo imobilizado. Foi assim que a cantora recebeu a VISTA antes da passagem de som para o show no Agulha, em Porto Alegre, no dia 12 de maio. À primeira vista, já questionamos o que rolou com a perna. Ela explicou que havia torcido o pé uns dias antes. Perguntamos como estava fazendo os shows, se conseguia ficar de pé durante todo o tempo. “Tô entendendo ainda. Hoje vai ser o primeiro desde que torci”, responde. Depois de encontrar um lugar onde a perna pudesse ter o apoio necessário, começamos a desenrolar uma conversa super rápida, mas gostosa D+.
Tássia Reis / Foto: Pyetra Salles
Mais tempo para o que importa
Assim como qualquer pessoa que estava entendendo minimamente o que acontecia, Tássia sentiu o baque de uma pandemia que mexeu em todas as nossas estruturas. Entre tantos pensamentos e questões que foram surgindo, a cantora também se viu tensionando carreira, vida pessoal e tempo: “Eu poderia decidir realmente cantar até o final da minha vida, sabe? Então muitos questionamentos começaram a surgir”.
Segundo Tássia, nesse momento surgiu a terapia, que foi importante em seu processo de compreensão de suas verdadeiras prioridades: “Eu sou uma pessoa que pensa muito na carreira. E entender que a minha carreira não é a minha vida é uma coisa muito importante. E se eu não puder cantar mais, minha vida acabou? Foi esse questionamento que eu comecei a ter”, conta.
Tássia Reis / Foto: Pyetra Salles
Essas e outras questões levaram a cantora de volta para Jacareí, interior de São Paulo, para passar mais tempo com a família. “Eu acho que isso [voltar para o interior] com certeza vai impactar na minha carreira. Com certeza estarei pensando na minha produção, na minha criatividade, de várias formas diferentes. E aí eu tô trabalhando isso ainda, tô entendendo. Ter que ir para Jacareí, pra minha cidade e ficar foi muito importante para mim, assim, voltar adulta, né?”, revela Tássia.
Esse retorno também foi um exercício com o tempo. Voltar depois de 11 anos e enxergar tudo com outros olhos foi interessante para que a cantora entendesse melhor quais as possibilidades para o futuro.
Próspera… D+
Durante o isolamento social, Tássia se viu paralisada. Precisou organizar as ideias e entender que não era obrigada a produzir algo durante o período em que estivesse em casa: “No primeiro momento de pandemia, eu não fiquei pensando tipo: ‘o que eu vou fazer?’. Muita gente querendo usar o tempo pra produzir, mas se eu não quisesse, tudo bem, sabe. Tava todo mundo mal.”
Passado o primeiro período, a coisa mudou. A cantora decidiu voltar a fazer música. No entanto, Próspera, álbum lançado em junho de 2019, teve sua divulgação interrompida em 2020 por conta do cancelamento e adiamento dos eventos. Ficou aquela sensação de história inacabada, incompleta, de um álbum que teve apoio do projeto Natura Musical e foi um grande sucesso na carreira da cantora. Próspera merecia esse fim? Para Tássia, não: “Fazer um disco novo? Fazer o quê? Vou ter que abandonar, não queria abandonar”, recorda.
Os fãs também não queriam abandonar o álbum. Um dia, depois de entender que ainda não era o fim do projeto, Tássia decidiu abrir suas redes sociais e conversar com seus seguidores. “Vocês querem que eu continue ou vocês querem novidade? Pra minha surpresa, a grande maioria queria que Próspera continuasse”, conta a cantora. “Legal, né? A gente vive num mundo em que as pessoas querem música. E eu pensei ‘meu, como é incrível isso’. Que bom que a gente pode ter essa troca, né?”, reflete.
Para amadurecer as ideias, ela tentou dar outras interpretações e novas roupagens para algumas músicas do álbum. O cansaço e a tristeza do período deram lugar a uma nova energia vinda desse novo projeto. Com participação de artistas como Tulipa Ruiz, Urias, Theo Zagrae e Preta Ary, Tássia conseguiu não só resgatar Próspera como potencializá-lo: “Eu também tava precisando extravasar, né? Tudo isso, com essa vontade de ir, de viver, com essa vontade de correr, vamos continuar. Peguei esse impulso da galera pedindo. E aí, deu no que deu”.
Em 14 de outubro de 2021, a cantora lançou Próspera D+, seu quarto álbum de estúdio. Além das versões ainda mais animadas de algumas faixas de Próspera, como “Preta D+” e “Dollar Euro”, o projeto ainda conta com 11 faixas inéditas. “Eu fiquei pensando em fazer algo em uma faixa que tinha tinha entrado no Próspera. Mexemos muito em harmonia, não dá para chamar de remix mais”, conta a cantora.
Retornando aos poucos
Voltando aos palcos desde o final de 2021, Tássia tem aproveitado o carinho dos fãs desde o primeiro show. “Foi um retorno de muita gente ali, sabe. Me emocionei. Eu não esperava tanto”, conta. “Gosto de tá no palco, é um lugar gostoso para mim. Me sinto bem, e estar entendendo como é fazer isso de uma forma nova, com a pessoa que eu sou agora também, né? A gente tem mudado muito”, revela a cantora, refletindo sobre como o período de isolamento social e a pandemia modificaram nossas vidas.
Tássia Reis / Foto: Pyetra Salles
Por enquanto, Tássia aproveita os shows e a divulgação de Próspera D+, mas já contou que tem ideias interessantes rolando e que podemos esperar novidades logo mais: “Acho que talvez comece alguma movimentação no final do ano. Mas ano vem vai sair e vai ser bem legal”.
Enquanto aguardamos novidades, vamos curtindo Próspera D+ sem pressa, aproveitando o processo, assim como a Tássia.