Por Filipe Maia
Outro dia, no Instagram, eu estava perdendo tempo encontrando coisas e, em um compartilhamento de um amigo corinthiano, o trampo do Gabriel Diogo apareceu pra mim. Eram umas ilustrações de um guia de como se vestir para um jogo do Corinthians e aquilo já se destacou na minha timeline porque eu não tinha visto o meu time daquele jeito ainda. Era diferente, leve, carinhoso e tinha traços bem marcantes.
Num outro dia, assistindo a um jogo do mesmo Corinthians, me deparei com uma propaganda de um banco e com os mesmos traços. Os braços, as tonalidades, a torcida. Era o Gabriel de novo e aquilo me fez ter certeza que eu queria bater um papo com ele (e também ter uma obra dele na minha casa, ainda mais se fosse algo do Coringão).
Sobre o Gabriel e sobre o trampo que ele faz
O Gabriel Diogo, ou @gabrieldiogo.ilustra no Instagram, tem 28 anos e é da zona leste de São Paulo. Ele é ilustrador freelancer, designer gráfico de formação e desde a adolescência soube que o futuro dele ia ser dentro dessa área. Ele comenta: “me encontrei de verdade no campo da ilustração”.
O trampo dele é bastante diverso, mas basta olhar mais de perto para ver que os esportes, principalmente o futebol, tem bastante influência. “O jogo em si é só a ponta do iceberg”, ele explica. “Quando falamos de futebol, estamos falando de relações interpessoais, identidade, cultura, e reduzir tudo isso a ‘22 pessoas correndo atrás de uma bola’ é muito pequeno!”
“Enxergar esses pontos subjetivos no futebol me inspira demais porque é algo que faz muito parte da minha vida e eu sei como é se identificar com o esporte, sobretudo, com o Corinthians e, obviamente, existem muitas pessoas que também se identificam com isso, então, no meu trabalho, eu busco (quase sempre) que as pessoas possam se enxergar dentro daquele cenário que é tão natural para elas.
É claro que não dá pra ignorar o fato do futebol ainda ser um ambiente extremamente machista e homofóbico, sendo apenas mais um reflexo da nossa sociedade que deve ser mudado, logo, todo mundo que tem essa identificação que eu comentei, deve ser um agente de mudança.”
O trampo do Gabriel também mostra um lado carinhoso, afetuoso, um cuidado com as coisas do dia a dia. Ele comenta que é uma pessoa nostálgica e que a memória afetiva também conta bastante na hora dele criar. No papo ele disse: “quase sempre eu tenho uma história para contar por trás de uma ilustração, seja de algo da minha infância que eu guardei na memória ou de algum momento específico da minha vida, que não seja necessariamente da infância; a cultura urbana é algo que me inspira, principalmente dentro do campo da moda; músicas e filmes que, principalmente, fizeram parte da minha infância e adolescência.”
Sobre seus últimos trabalhos e o desafio de criar pra fora
O Gabriel tem conseguido viver das ilustrações há um tempo e seu trampo pode ser visto em vários lugares, como quando eu vi na propaganda do banco no intervalo do jogo. Bem louco, né? A gente falou sobre isso também:
“Primeiro que é muito legal ver o meu trabalho espalhado pelo mundo ao lado de marcas tão grandes! Quando comecei a ilustrar, nem imaginava que seria possível chegar até lá, mas é extremamente gratificante. Quando um cliente desse tamanho confia no seu trabalho, é sinal de que as coisas estão indo no caminho certo.
Todos foram muito legais de fazer, sempre trabalhando com pessoas muito boas e compreensivas, mas destaco o da Hotels.com porque foi meu primeiro trabalho fora do Brasil e me deu muita visibilidade nos países em que foi veiculada. Mas como eu tive que trabalhar com uma agência de Hong Kong, não foi fácil! Ter que lidar com o fuso horário de 11h de diferença foi bem desafiador haha mas valeu MUITO a pena. Inclusive, nas últimas semanas, a campanha Marks Of Summer, em que desenvolvi diversas ilustrações, foi medalha de bronze no prêmio PR Awards Ásia.”
Chegar longe na ilustração com estilo próprio não é fácil, uma vez que a arte é subjetiva e tem que se moldar aos pedidos dos clientes. Para o Gabriel, “muita gente que tá começando a ilustrar fica preocupada em ter estilo próprio, em se diferenciar ao máximo do que as outras pessoas fazem e se esquecem de dar um passo de cada vez”. Para ele, a evolução é a cada desenho, reunindo referências, cores, texturas e formas que vão fazer um estilo ser único.
“Minha dica é: pratique e crie uma rotina de desenho, que seu estilo vai aparecer naturalmente. E aí, quando você tem um estilo marcante, os clientes te procuram por conta disso, então, em geral, é muito mais fácil de se adaptar a um projeto, porque a margem de mudanças que você precisa fazer é pequena.”